Páginas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

As Consequências da Nossa Periferia


A periferia geográfica a que o nosso país está sujeito desde o início da nacionalidade tem tido consequências profundas e de certo modo desastrosas no nosso temperamento, na nossa cultura, no nosso desenvolvimento económico e social, no modo de nos relacionarmos uns com os outros como cidadãos, na nossa forma de fazer política. etc. O facto de estarmos situados na extremidade da Europa, com a Espanha a barrar-nos a passagem para o centro do continente e até para o Mediterrâneo, devido às sucessivas querelas que com os espanhóis mantivemos ao longo dos séculos, impediu-nos de absorver, de assimilar, de modo geral e mais intenso, a genuína cultura europeia, ao nível das grandes, ou mesmo médias, massas de população. De modo geral, todos os povos da Europa mantiveram fortes contactos culturais, económicos, comerciais, artísticos, religiosos, etc. com os seus vizinhos (aqui e ali interrompidos por mais relevantes ou por, de certo modo, irrelevantes contendas). Connosco, a situação foi diferente. Encurralados entre a Espanha e o Oceano, ensimesmámo-nos até à época áurea dos Descobrimentos, perscrutando os longínguos mares. Quando daqui abalámos foi para nos relacionarmos com povos africanos, asiáticos e da América do Sul, com culturas completamente exógenas à europeia. Nessa época beneficiámos economicamente com o comércio das especiarias e dos metais preciosos, por exemplo, mas até isso acabámos por perder mais tarde, sobretudo em benefício de holandeses, de ingleses e de espanhóis. Veio depois o comércio de escravos, que exportámos de Angola para o Brasil e para as roças de cacau de São Tomé e Príncipe - vi-os passar à minha frente muitas vezes, nas ruas da cidade do Lobito, a caminho do porto, onde eram embarcados, arrancados à força às suas famílias que nunca mais chegavam a ver - de onde retirámos fortunas vergonhosas (sobretudo a nobreza e a burguesia, como sempre...). Enfim, não cabe aqui desenvolver este tema. Tentarei desenvolvê-lo noutras mensagens, assim como tentarei tratar de outros e diversificados temas que até podem nem caber no título deste blogue.