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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quem só vê os aspectos negativos do 25 de Abril sofre de míopia e de saudades do salazarismo

Quem só vê os aspectos negativos do 25 de Abril, vê mal, sofre de miopia e de saudades do salazarismo.

Quem só vê os aspectos negativos do 25 de Abril e tem saudades do salazarismo não se recorda da PIDE, da extrema pobreza maciça que então havia e que era causada fundamentalmente por constrangimentos políticos só de origem interna (sim... ainda não havia esta crise internacional de que até os Estados Unidos da América, a primeira potência económica mundial, estão a sofrer. O presidente Obama anunciou ontem redução de salários, menor investimento em certas áreas do orçamento do próximo ano, etc. Não se recorda da Censura Prévia a todos os meio de comunicação social (que os jornalistas e a maioria dos cidadãos não apreciavam nada, e de que tanto se queixavam, claro), nem das violências brutais nas prisões contra os presos políticos, (é de comprar o livro há pouco publicado, escrito por uma Juíza de nome Aurora Rodrigues, intitulado "Gente Comum - Uma História da PIDE"), que passou por isso e lá descreve tudo por que passou em Caxias (cuspidelas na cara, bofetadas, violentos encontros contra as paredes, etc.), nem da vergonhosa taxa de analfabetismo, nem das eleições falsificadas, nem do partido único que era a vergonhosa União Nacional (que de união só tinha o nome) nem da farsa, ao estilo do fascismo italiano de Mussolini, que eram a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa, nem dos tantos eteceteras mais.

Quem só vê os aspectos negativos do 25 de Abril não vê os aspectos positivos dele:
1) Pertencer à Comunidade Europeia (hoje União Europeia) é ter avançado em muitas áreas da vida nacional. É ter acesso aos fundos europeus e ao financiamento do Banco Central Europeu de que necessitamos porque produzimos e exportamos pouco. E produzimos e exportamos pouco porque muitos portugueses trabalham pouco (salvé as honrosas excepções) falta-lhes imaginação, e pensam maioritariamente  em futebol, no Sporting, no Benfica e no F. Clube do Porto...
2) Pertencer à União Europeia é ter lá a trabalhar milhares de portugueses, em Bruxelas e noutros países, que para cá enviam os seus rendimentos. Bruxelas de que há um PPS que hoje recebi e da qual, ignorantemente, diz mal. Entristecido por, diz ele, termos perdido uma parte dos nossos soberanos poderes legislativos nacionais, como se isso não aconteça com todos os países que a ela pertencem (até com a Alemanha, país sempre tão cioso da sua soberania). E a unificação da legislação, a sua uniformidade, não é um activo?
3) Pertencer à União Europeia é termos hoje legislação da mais avançada, a par do Direito Europeu, em todas as áreas da vida quotidiana
4) Pertencer à União Europeia é poder cada um deslocar-se por todos os países dela sem necessidade de passaporte
5) Pertencer à União Europeia é estarmos de costas muito menos voltadas para a Europa a que pertencemos e para a sua cultura, postura que, antes, já acontecia há séculos !!!
6) Pertencer à União Europeia é a nossa cultura ser hoje mais conhecida na Europa (ainda hoje ouvi a, até há pouco directora do Instituto Camões em Paris, falar da quantidade de espectáculos com artistas portugueses que hoje acontecem em França. Bem como das mais diversas actividades culturais portuguesas que hoje sucedem em França).  Pertencer à União Europeia é ter orgulho nisso e não do contrário que, isso sim, nos envergonhava.
7) Pertencer à União Europeia é poder exportar para lá os nossos produtos sem eles terem de pagar taxas aduaneiras
8) Pertencer à União Europeia, e estarmos livres da ditadura salazarista, é hoje podermos pertencer às Nações Unidas e a todos os organismos internacionais dela dependentes.
9) Pertencer à União Europeia é hoje possuirmos Internet, o mais poderoso meio de comunicação social a nível global até hoje inventado, sem que ela seja censurada, e até podermos enviar uns aos outros o vergonhoso PPS que me enviaram hoje, e que, vê-se bem, foi escrito por alguém de extrema direita, saudoso do inefável Salazar o - para ele - salvador da Pátria que nos envergonhava aos olhos do mundo civilizado, e a quem, o autor desse PPS, eu gostaria de retorquir por mail se conhecesse o seu endereço electrónico.
Enfim, farto de antiquados estou eu, pois este país sempre foi um país de saudosos da ditadura, de periféricos de costas voltadas para a cultura europeia e de gente que nunca gostou de mudanças, fossem elas quais fossem. A única época da nossa História em que o país mudou profundamente (além do 25 de Abril) foi a época dos nossos gloriosos Descobrimentos marítimos. Gloriosa época que, infelizmente, deu depois origem à exploração colonial (cujos pormenores vergonhosos se podem consultar na diversa literatura existente sobre o assunto e a que assisti até aos 18 anos de idade, em Angola), ao regime do indigenato, às guerras coloniais onde se matou tanta gente e onde tantos portugueses perderam a vida às ordens de um ditador míope. Colónias de onde saímos derrotados, depois de todos os outros países europeus também possuidores de colónias já terem saído delas por terem entendido a realidade muito mais cedo. Que a descolonização portuguesa se tenha acabado por realizar aos "solavancos" e com o sofrimento de tanta gente que das colónias teve de regressar à pressa deveu-se à teimosia de um ditador sem o entendimento da História.