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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Assim se vê a Força do TGV

Assim se vê a força do TGV

http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1553355&seccao=Leon%EDdio

Por LEONÍDIO PAULO FERREIRA (no Diário de Notícias de 26 Abril de 2010)
Imagine-se sentado no Maglev, o comboio chinês que anda a 500 km/h. Quando terminar de ler esta crónica terá já viajado 13 quilómetros. Uma velocidade mágica, só possível porque a locomotiva e as carruagens levitam sobre os carris. Mas, com passageiros a bordo, os comboios de alta velocidade costumam respeitar o máximo de 300 km/h. E se um dia tivermos finalmente um TGV a ligar Lisboa a Madrid seria excelente a média de 250 km/h. Dava para avançar seis quilómetros enquanto lia este artigo sobre como o mundo se está a render ao fenómeno da alta velocidade sobre carris. Com os projectos em curso, em Marrocos como na Rússia ou na Coreia, a rede global passará de 11 mil quilómetros para 42 mil. O que dá que pensar, sobretudo se um dia destes viajarmos no Lusitânia, que todas as noites liga as capitais ibéricas a um ritmo em que, após lidos estes 2600 caracteres, só se andou dois quilómetros.
A alta velocidade é cara. Um quilómetro de via custa 12 a 30 milhões de euros. E ainda 70 mil euros de custos anuais de manutenção. Um comboio vale 25 milhões, mais um milhão de euros por ano para se manter em forma. As contas são do El Mundo, que tem obrigação de saber do que fala, pois afinal há 18 anos que a Espanha se rendeu à alta velocidade, com a pioneira ligação Madrid-Sevilha a bater por grande margem o avião, o que mostra que, mesmo na época das low-cost, a centralidade das estações e a ausência de check-in tornam o comboio competitivo. Um dia falou-se de cem euros para o bilhete de TGV Lisboa-Madrid como se tal fosse sinónimo de falhanço anunciado na luta contra o avião e o carro. Nada mais errado. Há muitas maneiras de fazer os cálculos, e nem só os euros contam. Há quem dê valor ao tempo, outros ao conforto, já para não falar dos que não gostam de voar ou dos que se assustam só de pensar em conduzir seis horas para depois ainda pagarem o estacionamento a preço milionário.

Os sauditas vão ligar por TGV Meca e Medina, os russos Moscovo e Sampetersburgo, os brasileiros Rio de Janeiro e São Paulo. Uma febre pela alta velocidade parece ter--se apoderado do mundo. Até nos Estados Unidos, onde o avião é rei e o carro imperador, está projectada a linha Los Angeles-Sacramento, relembrando esses tempos em que o comboio ajudou à conquista do Oeste. Mas nada disto é recente. Os japoneses foram os pioneiros, quando em 1964 lançaram o comboio-bala, que não pegou, porém, como sinónimo de alta velocidade. Em Portugal, ainda meio francófilo, até fomos bem rápidos a apoderarmo-nos da sigla TGV, de train à grande vitesse. Funcionamos é ainda a vapor quando se trata de decidir quando vamos ter o nosso. (Fim de citação do artigo).

O mesmo ou similar digo eu neste "blog" numa das suas páginas de há meses atrás. O investimento implica milhões e milhões de euros? Em relação ao total da nossa dívida externa eles são uma migalha... E se não for o investimento público a avançar e a proporcionar alguns milhares de postos de trabalho que se repercutirão em cascata, onde e quando teremos investimento privado? Aliás, como temos vivido desde há séculos de costas mais ou menos voltadas para a Europa (entretidos em batalhas contra os espanhóis e vice-versa...) salvo as conhecidas e honrosas excepções que, infelizmente, não chegam para definir a mentalidade geral plasmada ao longo dos séculos na alma de um povo no seu todo, já é altura de pensarmos que tudo quanto contribua para nos aproximar dessa Europa é bem-vindo ! Não chegam os aviões. Há muita gente que não gosta de viajar neles. Eu atravessei África de comboio, da costa ocidental à contra-costa, a costa oriental, isto é, do porto do Lobito, em Angola. até ao da Beira, em Moçambique, durante 8 dias, em 1950 (como Capelo & Ivens) e gostei imenso de tudo o que pude ver, que incluiu, por exemplo, a tonitruante cascata do Rio Zambeze, sobre a qual a via férrea passava. Viagem inesquecível ! Por outro lado, sobre o Estado português não incide a TOTALIDADE dos custos da construção da via férrea sobre a qual circulará o comboio de alta velocidade. Há Fundos Europeus que a essa construção se destinam e há outras entidades que assumem esses custos. Sempre que neste país se fala em avançar - em quase qualquer domínio da vida - logo se levantam as vozes tradicionalistas que se opõem a esse avanço, invocando toda a espécie de argumentos catastróficos. Se lhes déssemos ou tivéssemos dado sempre ouvidos... ainda hoje estaríamos na Idade Média ou pouco mais... E, ao que parece, o comboio de alta velocidade será misto : passageiros e carga. Portugal é o único país europeu que tem grandes portos voltados de frente para o vasto Oceano Atlântico - de onde se vislumbram ao longe vários países africanos, da América Latina e até da América do Norte. Óptimo e evidente sinal para que desses portos exportemos as nossas mercadorias (nós e os espanhóis, que nisso estão muito interessados). Assim voltemos a ter uma frota de navios mercantes, ou aproveitemos os que que cá aportem. Foi isso que viram os nosso navegadores com as suas naus nos Séculos XV e XVI, quando daqui zarparam em busca do então distante e desconhecido mundo. O que teriam pensado e dito naquela época os imobilistas de então? Assim como parece que os seres humanos, quando nascem, já vêm predestinados, parece que também com os países se passa o mesmo, e Portugal não deve fugir à regra. E o destino de Portugal parece consistir em olhar para longe, rentabilizando a sua posição de país Atlântico. O que não invalida que agora esse longe seja a Europa, que também penetremos o mais possível nela, na sua cultura e nos seus valores profundos. POR TODOS OS MEIOS. Basta de isolamento e de virar de costas !!
Nota: e hoje (13 de Maio de 2010) houve mais um grande acidente aéreo, desta vez na Líbia. O avião desintegrou-se totalmente ao aterrar em Tripoli. Morreram cento e tal pessoas, quase todas europeias e maioritariamente holandesas, tendo-se salvo apenas um miúdo de 9 a 10 anos de idade que, possivelmente, ficou órfão. O avião era do mesmo fabricante e do mesmo modelo daquele que, em Junho de 2009, se despenhou a pique no meio do Atlântico, desastre no qual morreram horrivelmente várias centenas de pessoas. Só há dias foram descobertas pela marinha francesa, a 5 km de profundidade, as respectivas caixas negras. Também nas estradas morrem pessoas? Pois morrem... mas em cada acidente rodoviário morrem geralmente poucas pessoas ou até apenas uma. Pelo contrário, num acidente aéreo morrem simultaneamente centenas de pessoas e o pânico e a gritaria dentro do avião que vai a despenhar-se devem ser horríveis. Perante estas horríveis tragédias, quem não gosta de viajar de avião deverá ter o direito de viajar num confortável comboio de alta velocidade.