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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Em 25 de Abril de 2012, no 38º aniversário da Revolução dos Cravos

Este texto já foi publicado há 30 anos, mas as realidades permanecem ou são piores

"...Mas é escusado pensar que a metamorfose da maravilhosa revolução dos cravos em degradado banquete dos "cravas", para o etiquetar com a vulgaridade que merece, se deva nominal e grupalmente a alguém. É uma culpa anónima, uma maquinação de poderes obscuros, uma "pouca sorte" que nada tem a ver com a mentalidade colectiva tantas e tantas vezes ilustrada. Culpados não existem, e sobretudo entre quem parecia lógico que o fosse. Todavia alguém terá de pagar, cedo ou tarde, o preço que a aparência exige para ter o mínimo de realidade. Esse alguém é bem conhecido: chama-se povo, o povo que efectivamente trabalha e para quem, como escrevia Goethe, a maioria das revoluções que se fazem em seu nome não significam mais que a possibilidade de mudar de ombro para suportar a costumada canga". In: Eduardo Lourenço, "O Labirinto da Saudade", Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1982