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sábado, 26 de dezembro de 2009

Ainda a propósito de investimentos públicos e de TGVs

"Ainda a propósito de investimentos públicos e de TGVs

A União Europeia acaba de conceder mais 33 milhões de euros para a construção do nosso TGV. A União Europeia vê longe e está muitíssimo interessada em que, pelo menos todas as suas capitais, estejam ligadas por comboios de alta velocidade. Porque será que João Salgueiro e outros responsáveis portugueses (relativamente poucos, felizmente) pensam ao contrário e apenas se atêm aos aspectos financeiros deste investimento, por importantes que sejam? Por atavismo? Por "lusitanismo" ancestral? E as consequências económicas a médio prazo, não contam?

Em meu entender é por pequenez de alma e por diminuta ambição e desejo de acompanharem o resto da Europa. A tal "periferia" geográfica e mental de Portugal que deu os resultados que deu ao longo de Séculos ! Estamos para aqui à beira-mar plantados e mais ou menos isolados (apesar de toda a tecnologia actual...). Um exemplo: aqui em casa - e já aqui me referi a esta realidade noutro texto - ouço diariamente centenas de estações de rádio - especialmente as que transmitem noticiários e música erudita ou de Jazz - em todas as línguas da Europa, através do meu computador e da minha parabólica. Pois saiba-se que todas elas falam bastante de Espanha e da música espanhola ou inspirada em Espanha, e quase nenhumas falam de Portugal ou da música portuguesa (seja música erudita, seja de Jazz ou outra qualquer espécie de música). Só há uma, duas ou três excepções: de vez em quando há uma estação neerlandesa que lá vai transmitindo a Maria João Pires, que é realmente muito respeitada, como não poderia deixar de ser e, por vezes, a Amália Rodrigues, apesar de esta ter sido apenas intérprete de Fado. Outras duas excepções são uma estação Suiça e uma Alemã. Porém, todas elas transmitem muito escassamente música do nosso país ou sequer se referem a ele.

Os espanhóis são 40 milhões e nós 9 milhões? Pois mesmo em percentagem temos compositores suficientes para que fossem nomeados e transmitidos. Não, a razão é outra: é que eles, para efeitos culturais, consideram-nos de facto um país periférico. Não é que, como radialistas, como produtores de programas radiofónicos, não saibam eventualmente que Portugal tem compositores e intérpretes e quais são eles: Joly Braga Santos, Luis de Freitas Branco, Armando José Fernandes, Marcos Portugal, João Domingos Bomtempo, António Vitorino de Almeida, por exemplo, em relação aos primeiros. Mas... praticamente, não nos consideram, somos longínquos, não nos impomos e não lhes interessamos. Era isto que eu gostaria que se modificasse - e todos nós, certamente - COM TUDO O QUE FOSSEM LIGAÇÕES COM A EUROPA por TODAS as vias de comunicação rápidas. Há muita gente que vai a Madrid e que não gosta de viajar de avião. Inversamente, de Madrid até aqui seria um salto de 2 horas e meia em comboio rápido e confortável !! Não bastam os turistas que vão ao Algarve de avião... para desfrutarem o Sol e as praias !! Precisamos de que venha cá mais gente de cultura, de gente com outros interesses, para nos conhecerem melhor e assim nos sentirmos mais orgulhosos de nós por sermos falados e veiculados por essas ondas de rádio fora !! De sermos, enfim, mais conhecidos e respeitados. Por "ricochete" passaríamos também a ser mais veiculados em todos os restantes meios de cultura.

Hoje por exemplo (3 de Dezembro de 2010) milhares de passageiros de todas as companhias de aviação viram-se impedidos de viajar para os seus destinos por estar encerrado o espaço aéreo espanhol devido à greve "selvagem", sem aviso prévio, dos controladores aéreos espanhóis. Com todos os inconvenientes e incómodos daí resultantes. Se dispusessem de um TGV pôr-se-iam em Madrid e também nos restantes destinos (através dos TGVs espanhóis) num instante..."

É claro que a situação económica e financeira do país está séria e difícil (o texto acima, até "em todos os restantes meios de cultura"), já foi escrito há uns dois anos mas, repito, da União Europeia virão verbas importantes para a concretização deste investimento e todas as diversas empresas que "orbitariam" em torno da construção da linha iriam necessitar de muita mão de obra e criariam assim muitos postos de trabalho. Menos despesas com muitos dos subsídios de desemprego e factor de alavancamento contra a recessão económica.