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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Já se experimentou de tudo...



Já se experimentou de tudo... A economia liberal de mercado ou capitalismo puro e simples, e a economia socialista; o comunismo marxista-leninista, as economias mistas (um pouco de cada uma...), a social-democracia; etc. Quanto ao comunismo, a ex-União Soviética extinguiu-se e os russos acabaram por desistir dele, depois de o Estado soviético ter sido o que mais o propagandeou pelo mundo fora. Hoje, a Rússia é um Estado capitalista. Ao que parece, os russos concluíram que aquele sistema económico mais não era do que uma formosa e insustentável Utopia. Isto sem falar dos degradantes aspectos políticos e humanos que sempre ensombraram aquele sistema.
Nenhum destes sistemas resultou plenamente, e neste momento ninguém sabe lá muito bem onde vai arribar a economia mundial. O capitalismo nunca se assumiu como Utopia humanista - impossível lhe seria disfarçar-se disso - e sempre se apresentou como mecanismo puro e simples de produção e venda, e de insaciável mecanismo de obtenção de lucros máximos, sempre máximos, sempre em busca da produtividade e da rentabilidade máximas, sem outras preocupações que não eles, os ditos lucros, e elas, a produtividade e a rentabilidade máximas... (como o estão a fazer os chineses, num país dito comunista, de exploração máxima do factor trabalho, onde os trabalhadores nem sequer dispõem de sindicatos que defendam os seus interesses). Pouca ou nenhuma ética entra nisto. Poucos ou nenhuns valores éticos entram nisto. Só adventícia e aleatoriamente isso acontece.
No presente vive-se da dívida... Nós "exportamos" a nossa dívida. Os prestamistas aumentam as taxas de juro e as dívidas crescem... Não há sistema económico nem sistema financeiro que aguente assim muito tempo. Qualquer que ele seja. O sistema bancário abusa mas tremelica... Em 2010, só nos Estados Unidos, faliram 111 Bancos e espera-se que neste ano de 2011 o número de falências bancárias seja ainda superior. Talvez tenhamos de regressar à economia de trocas, sem existência da invenção que foi o dinheiro, o sistema monetário... É que, numa situação assim, o papel-moeda deixa de ter significado e passa a ser uma abstracção. Assim como as barras de ouro, que brilham e rebrilham mas não dão fruto em termos produtivos. Apenas beneficiam os especuladores e podem representar a última garantia da solvabilidade de um Estado. E lá se vão os Bancos e os seus lucros desmesurados.
Já tivemos situação análoga em 1929: foi a Grande Depressão. The Big Crash. Eis aqui um interessante vídeo (com som) acerca do que ela foi (aguardar um pouco. O vídeo acabará por surgir um pouco depois de se clicar sobre o link abaixo):

http://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/films/crash/player/

Será que o Criador terá de criar um novo Homem, com outros valores e bens menos físicos e materiais? Difícil será convencer este último a ser feliz sem os actuais e múltiplos bens físicos !! Mas poderá não haver alternativa senão a "Pedra lascada"... Deixo a sugestão à reflexão do Criador ! Aqui para nós, Ele, que é a sabedoria máxima, bem podia ter previsto o que se está a passar e, assim, livrar-nos de mergulhar num imbróglio destes... conferindo-nos almas menos insaciáveis.
Os tempos não estão para brincadeiras... Naqueles anos saiu-se da Grande Depressão (ou Big Crash) com as políticas do New Deal, implementadas pelo Presidente Franklin Delano Roosevelt nos Estados Unidos:  
- promoveu-se a destruição dos stocks excedentários de produtos agrícolas, como algodão, trigo e milho, a fim de conter a queda dos respectivos preços;
- promoveu-se o controlo sobre os preços e a produção, para evitar a superprodução na agricultura e na indústria;
- promoveu-se a diminuição do número diário de horas de trabalho, com o objectivo de criar novos postos de trabalho. Por outro lado, fixou-se o salário mínimo e criaram-se o seguro-desemprego e o seguro-velhice (para os maiores de 65 anos). As políticas de intervenção estatal ou pública começaram a ser adoptadas primeiro nos Estados Unidos, com o anúncio  de uma série de medidas pelo presidente Franklin Roosevelt, as medidas referidas acima (New Deal ou Novo Acordo, Novo Contrato ou Novo Regime) medidas essas que foram sendo concretizadas a partir de 1933. Eis as mais importantes:
  • o controlo dos Bancos e instituições económicas e financeiras;
  • a construção de obras públicas, como certas infra-estruturas, para a criação de empregos e para o incremento do mercado consumidor;
  • a concessão de subsídios e de crédito agrícola a pequenos produtores familiares;
  • a criação da Previdência Social, que estipulou um salário mínimo, além de garantias a idosos, desempregados e inválidos;
  • o controlo da corrupção no governo;
  • os incentivos à criação de sindicatos para aumentar o poder de negociação dos trabalhadores e a facilitação da defesa dos novos direitos instituídos.
Este tipo de medidas (quase todas, ou mesmo todas, de carácter social) era impensável até aí numa economia liberal e foi então que surgiu o keynesianismo - de John Maynard Keynes, economista britânico - que o explicou na sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda - General theory of employment, interest and money, teoria que veio a ser contestada mais tarde, principalmente porque continha ideias e fórmulas que se opunham a certos grandes interesses económicos estabelecidos, como o investimento público em grandes obras, e o intervencionismo público na fixação de taxas de juro, por exemplo, para estimulação da economia.
 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Não há dúvida que é de lamentar. Quem poderia não o apreciar?
Um grande jornalista e um homem de vasta cultura e bom gosto. Falta colocar aqui a sua biografia e referir a sua vasta obra.

"Ministério da Cultura lamenta morte de Carlos Pinto Coelho

Lisboa, 16 dez (Lusa) -- O Ministério da Cultura lamentou hoje a morte do jornalista Carlos Pinto Coelho, ocorrida na quarta-feira, em Lisboa, na sequência de complicações de uma intervenção cirúrgica de urgência.
"Prestigiado jornalista", Carlos Pinto Coelho "trilhou um percurso de mais de quatro décadas na imprensa, na rádio e na televisão", refere um comunicado do Ministério no qual a ministra e o secretário de Estado expressam, em seu nome pessoal e do Governo, profunda consternação e pesar pela morte do jornalista.
"A ação muito relevante que desenvolveu em prol da divulgação das artes, da cultura e da língua portuguesa, mas também da cultura lusófona, são reflexo de um homem culto e sensível, profundo humanista e comunicador nato, que cultivou um estilo muito próprio e cujo súbito desaparecimento empobrece insanavelmente o panorama cultural português", acrescenta o documento."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mais de 500 mil trabalhadores portugueses em risco de pobreza

Um estudo do Observatório das Desigualdades do ISCTE revela que mais de 500 mil trabalhadores portugueses estão em risco de pobreza. Esta é uma das principais conclusões do estudo apresentado no Auditório Afonso de Barros, no ISCTE-IUL, Ala Autónoma, no livro “Desigualdades Sociais 2010. Estudos e Indicadores”.

O estudo, divulgado em forma de livro pelo Observatório das Desigualdades do ISCTE, com apresentação de Jorge Sampaio e Diogo Freitas do Amaral, alerta para os mais de 500 mil trabalhadores que estão bem perto de atingirem o limiar da pobreza, mas também para o facto de quase um quarto dos menores de 18 anos viver em situação de pobreza.

O livro «Desigualdades Sociais 2010. Estudos e Indicadores», coordenado por Renato Miguel do Carmo, revela ainda que Portugal é um dos países da Europa em que mais se nota a disparidade da distribuição de rendimentos.

Para os autores do estudo, o desemprego é actualmente a questão central que Portugal enfrenta porque há o sério risco de contribuir para uma sociedade mais desigual e de agravar os problemas estruturais de país.

No estudo é ainda revelado que o rendimento e a escolarização dos trabalhadores portugueses estão muito aquém da média da União Europeia e a situação tornou-se um ciclo vicioso que leva à pobreza já que "a distância que Portugal tem em relação a outros países é muito grande".

O coordenador do projecto revelou em declarações à agência Lusa que "Portugal sempre se caracterizou por ter salários baixos e, portanto, ter um contrato de trabalho estável não quer dizer que tenha um rendimento razoável. Há muita gente empregada em situação de pobreza".

Os baixos salários e a diminuta escolaridade dos portugueses são ainda, segundo Renato Miguel do Carmo, "os dois grandes motores das desigualdades em Portugal" e "um ciclo vicioso que tem repercussões ao nível da pobreza, do desemprego, da mobilidade social e o que nós queremos é chamar a atenção para este carácter de permanência das desigualdades".

O Observatório das Desigualdades revela ainda na apresentação do livro que este teve “como princípio orientador o equilíbrio entre a necessidade de, por um lado, promover uma divulgação mais alargada de informação estatística relevante e de, por outro lado, integrar um conjunto de contributos diversificados que, a partir de investigações realizadas ou em curso, desenvolvam análises mais pormenorizadas sobre diferentes sectores da sociedade”.

Os dados revelados referem-se a informação disponibilizada recentemente pelos diversos institutos e organizações nacionais e internacionais e que as “cinco áreas temáticas abordadas revelam precisamente esse carácter multidimensional das desigualdades: disparidades de rendimento, pobreza, emprego e desemprego, educação e saúde”.

A maior parte dos contributos refere-se a investigação desenvolvida nos três centros que formam o Observatório das Desigualdades e focam temáticas tão diferenciadas como a pobreza, a educação (em vários ciclos de ensino), a saúde, a precariedade, o desemprego, a imigração, os territórios (incidindo sobre diferentes escalas), as diferenças de género, as classes sociais, etc.

(Texto retirado de noticias.rtp.pt)

 

Já era sabido, mas está aqui a confirmação

Growing US budget deficit is the greatest threat to the country's prosperity and security, President Obama's Debt Commission warned, as it recommended sweeping spending cuts and tax reforms
Tradução:
O crescente défice orçamental dos Estados Unidos é a maior ameaça à prosperidade e segurança do país, alertou a Comissão da Dívida do Presidente Obama, ao recomendar cortes generalizados na despesa e reformas fiscais

sábado, 30 de outubro de 2010

ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE ECONÓMICA DE PAÍSES EUROPEUS

Índice de Sustentabilidade Económica de Países Europeus
Repare-se nas situações de Portugal, Itália e Grécia. A insustentabilidade da nossa economia significa que enquanto tivermos esta estrutura produtiva, enquanto não exportarmos mais produtos de elevado valor acrescentado, enquanto não importarmos menos produtos dispensáveis porque os produzimos cá com igual ou superior qualidade, teremos de viver de empréstimos externos. E não sairemos deste círculo vicioso e cada vez mais destrutivo. Ou seja, o nosso PIB terá de aumentar ainda muito e isso irá requerer a passagem de ainda muitos anos.  Temos de começar já ! O que se pode dizer pois, em resumo, relativamente ao nosso país? Que é necessário criar todas as condições para atrair investimentos PRODUTIVOS nacionais e estrangeiros. E quais serão elas? Desburocratização, ainda maior aceleração de autorizações de instalação e de início de actividade, boas comunicações mesmo no interior rural, fiscalidade razoável, apoio técnico e tecnológico intenso, maior celeridade no funcionamento das instituições judiciais e da consequente aplicação da justiça, estudo comparado dos processos administrativos e da legislação desta área nos outros países da União Europeia, etc. Trata-se de evidências... óbvias. Porque não atraímos muitos mais investimentos? Porque não os criamos nós próprios? É urgente descobrir a razão. Podemos continuar a ter uma economia insustentável conforme revela a tabela abaixo? Não é possível. Ou encontramos a solução, ou desapareceremos como país independente e soberano!
Ah! E se pensássemos a sério em gozarmos de menos feriados? Cada dia de feriado custa-nos milhões !!

EPC  - European Policy Center
Executive summary

In the light of the unprecedented turmoil in the euro-zone and the uncertainty over what the future holds, it is important to not only understand the current pressures on publíc finances but also the medium- to long-term factors which will affect the economic stability and sustainability of EU countries in future. The long-term competitiveness of European economies, their governance and their ability to carry out structural reforms to cope with long-term challenges will all influence whether countries have a sustainable economy in the long run. This will also determine the success or failure of the euro.
To assess the economic sustainability of Europe's economies, the EPC has developed an index to assess simultaneously the short-, medium- and long-term economic sustainability of EU countries relative to each other. This index is constructed using six domains: deficits, national debt, growth, competitiveness, governance/corruption and cost of ageing.
The results for the European Economic Sustainability Index (EESI) for 2010 are shown below:
                       Score       Rank          Group            Rank              Euro?
                                              2010                                  2007
Sweden                0.55            1              TOP                  8
Denmark              0.45            2              TOP                  4
Estonia                 0.45            2               TOP                  1                 Euro 2011
Finland                 0.42            4               TOP                  4                 Euro
Netherlands         0.28            5               HIGH                9                 Euro
Germany              0.24            6               HIGH              15                  Euro
Luxembourg        0.24           6               HIGH                7                  Euro
Austria                  0.20           8               HIGH              13                  Euro
United Kingdom  0.07           9              MIDFIELD         11
Czech Republic   0.05         10             MIDFIELD         17
Slovakia               0.03         11              MIDFIELD          10                 Euro
Poland                  0.02         12              MIDFIELD         15
Belgium               -0.01         13              MIDFIELD        22                  Euro
Bulgaria               -0.02         14              MIDFIELD        12
France                 -0.03         15             MIDFIELD         20                  Euro
Ireland                 -0.08         16             IN DANGER        3                  Euro
Slovenia               -0.09         17             IN DANGER     19                   Euro
Cyprus                 -0.10         18              IN DANGER     23                  Euro
Lithuania             -0.13          19             IN DANGER        6
Malta                    -0.15          20            IN DANGER       21                  Euro
Hungary              -0.17           21            IN DANGER      24

Romania              -0.19          22            IN DANGER       18
Latvia                   -0.22          23           IN DANGER         2
Spain                   -0.23           24           IN DANGER       14                  Euro
Portugal              -0.29           25        UNSUSTAINABLE  25                Euro
ltaly                      -0.38          26        UNSUSTAINABLE  27                Euro
Greece                -0.93          27        UNSUSTAINABLE   26                Euro

                            

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Medidas de austeridade do governo britânico para a quase total eliminação do défice externo do Reino Unido

Quem diria? A notícia foi transmitida nalguns noticiários das nossas televisões e rádios, mas o relevo que lhe foi dado depois foi quase nulo. Será bom que todos nos apercebamos de que até um país que foi um grande Império a nível mundial (senão o maior deles) está a passar por dificuldades económicas e financeiras muito graves.Toda esta crise internacional, esta crise deste e daquele país, acaba também por se repercutir nos demais, dado que haverá uma contracção nas importações e exportações mútuas. Aos factores de recessão internos a cada um acrescenta-se este outro factor resultante da interligação entre todas as economias.

Eis a notícia:

"O governo britânico apresenta na quarta-feira o plano de cortes para a quase total eliminação do défice, abrindo a porta a uma "era de austeridade" e, segundo os críticos, a uma nova recessão.
Depois de em Junho ter anunciado o aumento de impostos como o IVA para angariar mais receitas, o ministro das Finanças vai explicar como pretende poupar 83 mil milhões de libras (95 mil milhões de euros) em cinco anos.
Preocupado com a instabilidade dos mercados financeiros e com o rating da dívida britânica, George Osborne quer fazer o défice cair rapidamente de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009/10 para apenas dois por cento.
Este "emagrecimento" da despesa pública vai implicar reduções de, em média, 25% em todos os ministérios, com excepção dos da saúde e da cooperação internacional.
O plano é o resultado de semanas de negociação, que criaram momentos de tensão entre Osborne e outros ministros, nomeadamente da Defesa e da Segurança Social.
Algumas medidas já são conhecidas, como o fim do subsídio de família para os agregados familiares com maiores rendimentos a partir de 2013.
Todavia, ainda não foi detalhada a dimensão dos cortes, por exemplo, nas forças de segurança e noutros serviços públicos.

Um milhão de britânicos ficarão sem emprego

Um estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC), divulgado nos últimos dias, estimou em perto de um milhão o número de pessoas que vão perder o emprego na sequência das medidas, metade das quais no sector privado.
Empresas de áreas como a defesa e a construção, muito ligadas às encomendas públicas, serão as mais prejudicadas, adiantou a consultora.
Embora mais governos europeus estejam a introduzir medidas de austeridade, o ritmo britânico é considerado o mais radical e também arriscado por alguns críticos.
"A estratégia de austeridade da coligação" entre conservadores e liberais, denunciou Alan Johnson, o responsável pela pasta das Finanças no partido trabalhista, "constitui um risco enorme em termos de crescimento e empregos".
Em vez de eliminar o défice em quatro anos, Johnson defende a redução para metade no mesmo período, evitando um choque tão grande para a economia.
Também David Blanchflower, ex-membro do Banco de Inglaterra e um dos que advertiu para o risco da crise financeira, alertou para o perigo de uma "dupla recessão".
Segundo este economista, "a última coisa a fazer numa recessão é piorar as coisas".

O Nobel da Economia critica medidas radicais:
Outro preocupado com os cortes "demasiado grandes e demasiado rápidos" é Cristopher Pissarides, um dos vencedores do Prémio Nobel da Economia deste ano. "Se for feito tão subitamente, muitos trabalhadores podem perder os seus empregos e então haverá um problema em colocá-los em novos empregos", afirmou, enquanto que, se for mais gradualmente, as "pessoas podem encontrar novos empregos, ao mesmo tempo que outras perdem os delas".
Mas os líderes de 35 das maiores empresas britânicas, como Marks&Spencer, BT e GlaxoSmithKline, mostraram-se favoráveis ao plano do governo. "Reduzir o défice mais lentamente significaria pedir mais emprestado todos os anos, uma dívida pública maior e por isso gastos mais altos para o pagamentos dos juros", sustentaram.
Um estudo da consultora Ernst&Young desta semana previu um desaceleramento da economia britânica, seguido de crescimento sustentado".


Do "Diário de Notícias - Economia" de 26 de Outubro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Soluções Políticas - Os males máximos e os remédios mínimos

Veja-se como, já em 1921, escrevia Jaime Cortesão acerca dos problemas do nosso país naquela época. Um país que ainda possuía colónias em África e na Ásia, de onde lhe provinham as mais variadas riquezas... Em vésperas da votação do Orçamento apresentado pelo Governo Socialista na Assembleia da República, (Setembro de 2010) seria bom que os partidos meditassem sobre os termos do texto transcrito abaixo.
SOLUÇÕES POLÍTICAS
OS MALES MÁXIMOS E OS REMÉDIOS MÍNIMOS - O QUE A «SEARA NOVA» PROPÕE COMO SOLUÇÃO IMEDIATA PARA A CRISE NACIONAL

Os últimos acontecimentos revolucionários tiveram uma virtude: patentear à evidência a nossa desorganização social e as ameaças de morte que cercam a nação. Chegámos a um tão perigoso estado de dissociação, que, por momentos, o mesmo grito de alarme se ergueu de todos os agrupamentos da opinião política portuguesa. «Ante os perigos de toda a espécie que caracterizam a angustiosa situação do país, é indispensável e urgente a união dos esforços de todos os portugueses honestos e bem intencionados, venham eles de onde vierem...», afirmou o ex-deputado monárquico Sr. Carvalho da Silva, numa entrevista concedida ao Diário de Lisboa. Por sua parte, os três maiores partidos da República, levados por essa mesma necessidade, uniram-se para a defesa e realização de um programa mínimo. E o escritor ilustre Sr. Manuel Ribeiro, entrevistado por aquele jornal, falando em nome dos comunistas, deseja, em conclusão, «tranquilidade e calma para a solução dos mais instantes problemas económicos do país...». Esse mesmo estado de desorganização permitiu que uma grande parte da imprensa estrangeira, e em especial da inglesa, logo após a retirada dos navios de guerra estrangeiros que durante um mês fundearam no Tejo, começasse, movida por inconfessáveis razões, uma campanha a favor da intervenção estrangeira em Portugal. Uma revista inglesa ressuscitou a velha questão de saber a quem de verdade cabem as responsabilidades na retirada da batalha do Lys para as lançar, contra toda a razão e à mistura das afirmações mais caluniosas, sobre o exército português. Por mais que se diga, é impossível diminuir a gravidade extrema deste facto. A situação portuguesa chegou a um estado tão melindroso, que já os políticos de todas as cores o reconhecem, e os estrangeiros preconizam como único remédio salvador a sua intervenção. Atingimos o extremo em que uma ligeira oscilação pode provocar a última derrocada.
Não obstante esta aparente identidade de vistas adentro do país, muitos homens ainda teimam em erros e ilusões perigosíssimas. Se é certo que os extremistas, como claramente o deu a entender o sr. Manuel Ribeiro, repelem a ideia duma revolução social isolada em terras portuguesas, e o Sr. Emílio Costa preconizou nesta revista a necessidade de reformas imediatas dentro do regime actual, ao contrário, os monárquicos persistem em crer que o melhor remédio seja a mudança do regime e muitos dos chamados conservadores, fora e dentro da República, preparam, não obstante as sangrentas lições de Outubro e as gravíssimas indicações externas, um novo assalto ao poder por meios revolucionários. Por sua vez, os partidos republicanos, como se depreende do programa mínimo em que assenta a sua união, partilham um erro semelhante ao dos monárquicos, que é supor que as mudanças meramente superficiais possam remediar o mal. Com efeito, da leitura do seu programa mínimo, lícito será depreender-se que os nossos dirigentes políticos desconhecem as causas profundas da crise nacional e os meios eficazes para a debelar.
É lamentável que desse documento não ressalte a intenção de acudir às instantes necessidades educativas e que os partidos se tenham unido apenas para uma acção que não vai além dos expedientes transitórios, tal a de conceder prémios, realizar empréstimos e reformas tributárias. Pretender curar um doente pelo tratamento dos sintomas, deixando que a causa destruidora permaneça, equivale a condená-Io à morte. Antes de mais nada, a crise não é política, mas nacional. Com o nosso actual tipo humano dominante não há regime político capaz de tornar próspera a nação. Não é o regime, nem a agricultura, nem a indústria, nem as finanças que verdadeiramente estão em crise. O que em Portugal, há alguns séculos, está em crise, é o português. Enquanto se não melhorar o tipo social dominante, escusamos de pensar em melhorar o país de vez. Cada vez mais o trabalho governa o mundo, dá carácter e coesão aos povos e gera o tipo das futuras sociedades. Só pelas múltiplas iniciativas, a disciplina voluntária e a organização do esforço produtivo as nações se robustecem e progridem. Ora, com um português abúlico, madraço, parasitário e impulsivo, impossível se torna organizar o trabalho útil e vencer o deficit da produção. E enquanto esse deficit persistir, escusado será pensar de vez em baratear a vida, equilibrar os orçamentos, regular os câmbios e estabelecer a ordem. Depositar esperanças definitivas nos armazéns reguladores, nos empréstimos, em prémios, em impostos, em isolados fomentos coloniais e em movimentos da direita ou da esquerda, é persistir na inútil e mortal terapêutica dos paliativos. O remédio, demorado mas eficaz, consiste em melhorar o tipo social. O que urge é educar para e pelo trabalho, produzir para educar e pela educação. A resolução dos dois mais graves problemas - o educativo e o económico - faz-se concomitantemente. Suprimir toda a burocracia civil e militar inútil, obrigando todos os ociosos a um trabalho de utilidade colectiva, constitui uma medida de carácter juntamente económico e educativo. Acabar com um ensino que cria os doutores e políticos palavrosos e os aspirantes a militares e burocratas; criar a escola trabalhista; suprimir toda a propriedade inútil com o fim de a tornar produtiva, preenche igualmente os mesmos fins. Todavia o remédio de efeito mais salutar e duradoiro será transformar o jovem português, desde a infância,
dentro da família e pela escola, educando-lhe a vontade enfraquecida ao máximo pelos erros e morbos ancestrais.

Onde as forças políticas capazes de encetar com firmeza esta obra? Os partidos da República? Desgraçadamente os governos e os parlamentos saídos dos partidos, eles o reconhecem já, têm consecutivamente dado nos últimos anos as mais graves provas de incapacidade. Com a instabilidade governativa, em que soçobram todas as boas intenções, não se pode tentar a realização de reformas profundas. O seu mesmo programa mínimo implicitamente confessa a incapacidade para uma acção de largo fôlego. Também as soluções extremas que implicam as outras correntes políticas, são inviáveis em Portugal. Uma, a extrema direita, conservadora e capitalista, hoje, em parte alguma da Europa pode ser a reguladora única dos interesses sociais. A outra, a extrema esquerda proletária, não pode igualmente exercer aqui a sua preconizada ditadura. Já porque tal ditadura exige uma organização trabalhista e uma independência económica, que nos escasseiam por maneira evidente, já porque sendo nós um país de tão precária independência, não podemos assumir no mundo, isoladamente, uma atitude extrema. Demais erram e iludem-se grosseiramente os que confiam apenas em que das soluções políticas resultará a pública salvação. Num país onde as classes dominantes têm horror ao trabalho honrado e independente, até um governo de Bismarcks, Cavours e Pombais havia de falir por incapaz. Não há indivíduo, por poucas que sejam as suas aptidões ou possibilidades de acção, que não tenha responsabilidade no bom ou mau andamento dos negócios públicos. Dentro duma nação, por mais que se isolem, todos são bons ou maus políticos. Porque o progresso dum país resulta do valor produtivo de cada indivíduo, da sua vontade, desinteresse e espírito de sacrifício. Em verdade, é a soma dessas energias que transforma e governa a nação. Assim aos que nos solicitam a cada passo para que partilhemos do poder, diremos que as grandes reformas sociais não se realizam apenas governando. Aos que nos pregam que só as organizações partidárias permitem as grandes afirmações e realizações políticas responderemos que esses agrupamentos acabam por criar um espírito de baixo comunismo e uma moral de cumplicidade, essencialmente prejudiciais à pureza dos princípios. E a todos eles diremos, em resumo, que há uma vasta política fora da política e também se governa fora do governo.
Quer isto dizer que a acção dos governos tenha forçosamente de ser estéril? De modo algum. Desde que um governo tenha a auxiliá-Io uma acção colectiva suficiente, pode e deve realizar grandes progressos.
A Seara Nova, já o dissemos, entende que é extremamente defeituosa a organização actual dos partidos e que a República necessita, para o seu regular funcionamento, duma grande reforma de todos os seus poderes. Mas reconhece também a impossibilidade de substituir ou alterar profundamente, por agora, todos esses organismos. Atingimos um estado tal de desorganização que o menor abalo nos pode ser fatal. Procuremos, pois, realizar o máximo e o melhor esforço com os quadros e as fórmulas existentes. Mas para isso torna-se indispensável que o acordo dos partidos vá mais longe. Eles podem e devem entender-se sobre a maneira de debelar o mal nas suas causas e não apenas no tratamento dos sintomas. A situação portuguesa não admite mais delongas. Urge reconstruir desde os alicerces, resolvendo, como dissemos, os problemas educativo e económico. Dir-nos-ão que salvar um país por um sistema de reformas que tem por base a educação leva demasiado tempo. Todavia, a história o prova, nenhum resultado sério e duradoiro se pode obter por processo diferente.
Não é nosso intuito ditar aqui essas reformas. Mas a Seara Nova já começou a apresentar as bases da solução para o problema educativo pela pena do Dr. Faria de Vasconcelos e está contribuindo para a solução do problema económico com os notáveis estudos de Ezequiel de Campos. O ideal seria que os partidos acordassem com os técnicos num plano inteiro de governação e que um governo de competências, recrutado dentro e fora dos partidos, munido de garantias de estabilidade, encetasse a sua realização. Mas se isso for impossível, que ao menos os partidos se entendam, para a solução dos problemas educativo e económico, essencial à salvação do país, em dar continuidade governativa dentro das pastas da Instrução, Agricultura e Comércio, entregando-as a competências estranhar aos partidos, mas por eles apoiadas, de maneira a garantiir-lhes durante quatro anos a estabilidade necessária. Pretender salvar o país dentro da instabilidade dos últimos governos e sem atacar a sério a solução conjunta daqueles dois problemas acarretará mais desprestígio e culpas sobre esses organismos partidários, retardando ou impossibilitando a salvação do país.
Aos olhos do estrangeiro estamos perdendo os últimos restos de prestígio. Os jornais ingleses lançam sobre nós os piores insultos. Começamos a ser dificilmente tolerados como povo livre dentro da Europa. Nem já devemos perder tempo a discutir o direito que assiste a essas nações de nos vexarem. A única resposta satisfatória está na mudança de processos. Basta de expedientes. Basta de assaltos ao poder. Basta de assomos de tardio pundonor. Se não procurarmos sem tardança, com firmeza e honestidade, pôr fim à desorganização actual, daremos nós próprios razão aos estrangeiros, acabando por ser, clara ou disfarçadamente, os seus escravos.
Nº 5 -24/12/1921 - Jaime Cortesão

domingo, 27 de junho de 2010

Circunstâncias que têm impedido a actualização deste blog no último mês

Uma intervenção cirúrgica a que fui submetido no início deste mês de Junho de 2010, na área da oftalmologia, durante a qual aconteceu um percalço (uma oftalmorragia) não atribuível ao cirurgião - que agiu com a máxima competência que lhe é reconhecida - cirurgião que, aliás, já me tinha operado à outra vista com todo o êxito, no ano passado, e devido à mesma patologia - tem-me impedido de actualizar este blog, especialmente no que se refere aos textos dedicados às consequências económicas, sociológicas, culturais, etc. da periferia do nosso país em relação à Europa, e aos textos que queria dedicar às figuras mais notáveis da História da nossa vida cultural. Parece que agora, já no final de Junho, a incapacidade visual praticamente total da vista que foi vítima do percalço está a começar a desvanecer-se, pelo que espero poder retomar a sua escrita, sem esforço, com certa brevidade.

domingo, 30 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Primeira célula artificial criada em laboratório

Primeira célula viva artificial criada em laboratório e com ajuda da informática...


http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Foi-criada-uma-celula-artificial-em-laboratorio.rtp&headline=20&visual=9&article=346501&tm=2



Notável mas pode ter consequências perigosas a que se alude na notícia.

Sviatoslav Richter interpreta Estudo Opus 10, nº 4, de Chopin

Nunca cansa ouvir Richter a interpretar Chopin, com toda esta destreza "digital"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Já naquele tempo... TEXTO DE EÇA DE QUEIROZ, ESCRITO EM 1872

Fantástico ! Poderia ter sido escrito na actualidade...
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país caótico que, pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa - citam-se, a par, a Grécia e Portugal. Nós, porém, não possuímos como a Grécia, além de uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da Arte. Apenas nos ufamos do Sr. Lisboa, barítono, e do Sr. Vidal, lírico."

Eça de Queiroz, in "Uma Campanha Alegre", (1872) pág. 235, edição Livros do Brasil
 

sábado, 15 de maio de 2010

Sarah Vaughan

Sarah Lois Vaughan, (March 27, 1924 – April 3, 1990) was an American jazz singer known as having "one of the most wondrous voices of the 20th century". She had a contralto vocal range. and was nicknamed "Sailor" (for her salty speech), "Sassy" and "The Divine One". Sarah Vaughan was a Grammy Award winner.The National Endowment for the Arts bestowed upon her its "highest honor in jazz", the NEA Jazz Masters Award, in 1989 
 

No âmbito do tema deste blog (consequências da nossa periferia) seria interessante fazer uma sondagem no nosso país acerca da percentagem de pessoas que aqui apreciam o Jazz e comparar os seus resultados com os de outras eventuais sondagens efectuadas noutros países europeus sobre o mesmo assunto.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Assim se vê a Força do TGV

Assim se vê a força do TGV

http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1553355&seccao=Leon%EDdio

Por LEONÍDIO PAULO FERREIRA (no Diário de Notícias de 26 Abril de 2010)
Imagine-se sentado no Maglev, o comboio chinês que anda a 500 km/h. Quando terminar de ler esta crónica terá já viajado 13 quilómetros. Uma velocidade mágica, só possível porque a locomotiva e as carruagens levitam sobre os carris. Mas, com passageiros a bordo, os comboios de alta velocidade costumam respeitar o máximo de 300 km/h. E se um dia tivermos finalmente um TGV a ligar Lisboa a Madrid seria excelente a média de 250 km/h. Dava para avançar seis quilómetros enquanto lia este artigo sobre como o mundo se está a render ao fenómeno da alta velocidade sobre carris. Com os projectos em curso, em Marrocos como na Rússia ou na Coreia, a rede global passará de 11 mil quilómetros para 42 mil. O que dá que pensar, sobretudo se um dia destes viajarmos no Lusitânia, que todas as noites liga as capitais ibéricas a um ritmo em que, após lidos estes 2600 caracteres, só se andou dois quilómetros.
A alta velocidade é cara. Um quilómetro de via custa 12 a 30 milhões de euros. E ainda 70 mil euros de custos anuais de manutenção. Um comboio vale 25 milhões, mais um milhão de euros por ano para se manter em forma. As contas são do El Mundo, que tem obrigação de saber do que fala, pois afinal há 18 anos que a Espanha se rendeu à alta velocidade, com a pioneira ligação Madrid-Sevilha a bater por grande margem o avião, o que mostra que, mesmo na época das low-cost, a centralidade das estações e a ausência de check-in tornam o comboio competitivo. Um dia falou-se de cem euros para o bilhete de TGV Lisboa-Madrid como se tal fosse sinónimo de falhanço anunciado na luta contra o avião e o carro. Nada mais errado. Há muitas maneiras de fazer os cálculos, e nem só os euros contam. Há quem dê valor ao tempo, outros ao conforto, já para não falar dos que não gostam de voar ou dos que se assustam só de pensar em conduzir seis horas para depois ainda pagarem o estacionamento a preço milionário.

Os sauditas vão ligar por TGV Meca e Medina, os russos Moscovo e Sampetersburgo, os brasileiros Rio de Janeiro e São Paulo. Uma febre pela alta velocidade parece ter--se apoderado do mundo. Até nos Estados Unidos, onde o avião é rei e o carro imperador, está projectada a linha Los Angeles-Sacramento, relembrando esses tempos em que o comboio ajudou à conquista do Oeste. Mas nada disto é recente. Os japoneses foram os pioneiros, quando em 1964 lançaram o comboio-bala, que não pegou, porém, como sinónimo de alta velocidade. Em Portugal, ainda meio francófilo, até fomos bem rápidos a apoderarmo-nos da sigla TGV, de train à grande vitesse. Funcionamos é ainda a vapor quando se trata de decidir quando vamos ter o nosso. (Fim de citação do artigo).

O mesmo ou similar digo eu neste "blog" numa das suas páginas de há meses atrás. O investimento implica milhões e milhões de euros? Em relação ao total da nossa dívida externa eles são uma migalha... E se não for o investimento público a avançar e a proporcionar alguns milhares de postos de trabalho que se repercutirão em cascata, onde e quando teremos investimento privado? Aliás, como temos vivido desde há séculos de costas mais ou menos voltadas para a Europa (entretidos em batalhas contra os espanhóis e vice-versa...) salvo as conhecidas e honrosas excepções que, infelizmente, não chegam para definir a mentalidade geral plasmada ao longo dos séculos na alma de um povo no seu todo, já é altura de pensarmos que tudo quanto contribua para nos aproximar dessa Europa é bem-vindo ! Não chegam os aviões. Há muita gente que não gosta de viajar neles. Eu atravessei África de comboio, da costa ocidental à contra-costa, a costa oriental, isto é, do porto do Lobito, em Angola. até ao da Beira, em Moçambique, durante 8 dias, em 1950 (como Capelo & Ivens) e gostei imenso de tudo o que pude ver, que incluiu, por exemplo, a tonitruante cascata do Rio Zambeze, sobre a qual a via férrea passava. Viagem inesquecível ! Por outro lado, sobre o Estado português não incide a TOTALIDADE dos custos da construção da via férrea sobre a qual circulará o comboio de alta velocidade. Há Fundos Europeus que a essa construção se destinam e há outras entidades que assumem esses custos. Sempre que neste país se fala em avançar - em quase qualquer domínio da vida - logo se levantam as vozes tradicionalistas que se opõem a esse avanço, invocando toda a espécie de argumentos catastróficos. Se lhes déssemos ou tivéssemos dado sempre ouvidos... ainda hoje estaríamos na Idade Média ou pouco mais... E, ao que parece, o comboio de alta velocidade será misto : passageiros e carga. Portugal é o único país europeu que tem grandes portos voltados de frente para o vasto Oceano Atlântico - de onde se vislumbram ao longe vários países africanos, da América Latina e até da América do Norte. Óptimo e evidente sinal para que desses portos exportemos as nossas mercadorias (nós e os espanhóis, que nisso estão muito interessados). Assim voltemos a ter uma frota de navios mercantes, ou aproveitemos os que que cá aportem. Foi isso que viram os nosso navegadores com as suas naus nos Séculos XV e XVI, quando daqui zarparam em busca do então distante e desconhecido mundo. O que teriam pensado e dito naquela época os imobilistas de então? Assim como parece que os seres humanos, quando nascem, já vêm predestinados, parece que também com os países se passa o mesmo, e Portugal não deve fugir à regra. E o destino de Portugal parece consistir em olhar para longe, rentabilizando a sua posição de país Atlântico. O que não invalida que agora esse longe seja a Europa, que também penetremos o mais possível nela, na sua cultura e nos seus valores profundos. POR TODOS OS MEIOS. Basta de isolamento e de virar de costas !!
Nota: e hoje (13 de Maio de 2010) houve mais um grande acidente aéreo, desta vez na Líbia. O avião desintegrou-se totalmente ao aterrar em Tripoli. Morreram cento e tal pessoas, quase todas europeias e maioritariamente holandesas, tendo-se salvo apenas um miúdo de 9 a 10 anos de idade que, possivelmente, ficou órfão. O avião era do mesmo fabricante e do mesmo modelo daquele que, em Junho de 2009, se despenhou a pique no meio do Atlântico, desastre no qual morreram horrivelmente várias centenas de pessoas. Só há dias foram descobertas pela marinha francesa, a 5 km de profundidade, as respectivas caixas negras. Também nas estradas morrem pessoas? Pois morrem... mas em cada acidente rodoviário morrem geralmente poucas pessoas ou até apenas uma. Pelo contrário, num acidente aéreo morrem simultaneamente centenas de pessoas e o pânico e a gritaria dentro do avião que vai a despenhar-se devem ser horríveis. Perante estas horríveis tragédias, quem não gosta de viajar de avião deverá ter o direito de viajar num confortável comboio de alta velocidade.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Comemoração do 36º aniversário do 25 de Abril

Comemorou-se ontem o 36º aniversário do 25 de Abril de 1974, a Revolução dos Cravos. Por muito imperfeita que a nossa democracia seja (como tantas outras) é muito preferível a qualquer ditadura, com todas as suas violações dos Direitos Humanos (mesmo os mais elementares), com toda a sua corrupção forçadamente oculta e encoberta, com todo o seu nepotismo, com toda a sua prepotência, com todas as suas farsas eleitorais (lembram-se da Assembleia Nacional da ditadura salazarista, com membros eleitos em eleições falsificadas e em que apenas estava representado um "partido", o da chamada "União Nacional"?
E lembram-se da nefanda e abominável censura prévia aos meios de comunicação social (imprensa, literatura, cinema, teatro, rádio, televisão)? Precisa a nossa democracia de aperfeiçoamentos? Ninguém tem qualquer dúvida acerca disso. Tal como acontece com todas as outras democracias e com todas as outras obras humanas. Vamos a isso.

Não restam dúvidas de que o país se modernizou entretanto muito e nas mais diversas áreas.

Se hoje ainda somos de certo modo periféricos (apesar de pertencermos à União Europeia e dela termos recolhido ao longo destes anos de adesão inúmeros benefícios, como Fundos Estruturais destinados à modernização da Agricultura, das Pescas, da Produção Industrial, do Ensino e da Saúde, por exemplo), quanto mais periféricos ainda seríamos se, por sermos uma ditadura, não pudéssemos pertencer-lhe? Como seríamos olhados pelos restantes europeus? Como sobreviveríamos, ainda por cima nesta época de crise económica e financeira global?

Estaríamos mais isolados... Por sermos ainda uma ditadura, seríamos escarnecidos e desprezados... Ainda teríamos o escudo como moeda corrente. Escudo que estaria muito desvalorizado nesta altura, o que tornaria ainda mais difícil a nossa vida quotidiana. Estagnados, não teríamos qualquer réstia de esperança.
Por isso, os saudosistas do Estado Novo e mesmo da chamada Primavera Marcelista, estão profunda e obviamente equivocados.

sábado, 10 de abril de 2010

Para escutar a ANTENA 2 e a Rádio Bayern Klassik (Bayerische Rundfunk)

Faz bem escutar "online", e também em diferido, a Antena 2 da RDP bem como a Radio Bayern Klassik. Ao abrir o site desta última rádio, clicar sobre Live hören, no espaço inicial, à direita. Surgem opções. Eu opto por escutar esta com o Adobe Flash Player (Flash). Depois de assinalado Flash deve clicar-se sobre a frase Einstellungen speichern para definir a opção que se escolheu. OU ENTÃO IR DIRECTAMENTE AQUI E NA PÁGINA QUE SE ABRE PROCURAR BR-KLASSIK LIVE HÖREN E CLICAR SOBRE O PEQUENO ALTOFALANTE QUE ALI SE ENCONTRA

terça-feira, 6 de abril de 2010

Judite de Sousa "entrevista" Sócrates (montagem que circula na net desde há tempos) - Mais um exemplo sorridente... das consequências da nossa periferia

Ainda há quem pergunte o que significa o anglicismo "sexy", nesta época em que ele surge há tanto tempo em tanta publicidade televisiva, radiofónica, gráfica, etc. ... e responda "Que nojo" ao ser-lhe explicado que o vocábulo significa pessoa atraente, bonita ... . Não é grave, mas, provinda a reacção de pessoas que, supostamente, deveriam possuir uma cultura, ou uns conhecimentos, mais universais, diversificados e abrangentes, não deixa de ser estranho e curioso. Aliás, o termo perdeu a sua carga literal e simbólica inicial e possui hoje um significado mais "soft", que é o exposto mais acima. Terá isto também que ver com a nossa secular situação periférica?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Stephen Sondheim - Efeméride

Stephen Sondheim comemora hoje, 22 de Março de 2010, 80 anos de idade. Esta personalidade americana, nascida em Nova Iorque, é famosa pelas inúmeras e notáveis composições musicais com que contribuiu para o êxito dos musicais da Broadway. Para nos "aliviar" um pouco da nossa periferia (até cultural na área da música) eis aqui um exemplo:Clique sobre Stephen Sondheim's Clever Clowns e eleve o volume de som das suas colunas. Atenção: ao clicar ali atrás sobre "exemplo" abre-se uma página com uma foto pequena do "clown". Clique sobre o nome da canção "Send in the clown" que tem um pequeno alto~falante vermelho atrás. Aí abre-se outra página com uma foto maior do "clown". Imediatamente por debaixo está outro alto-falante. Ao clicar sobre este abre-se uma "frame" que apresenta 3 alto-falantes à direita. Para escutar a canção que proponho deve clicar sobre o terceiro da lista. Os outros contém uma parte da canção, comentários, entrevistas, etc. Espero que esteja bem explicado... Não desista porque vale a pena.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O CRIADOR

Peço desculpa aos que me lêem e a Ele, mas é-me difícil acreditar que este Universo em que vivemos (ou, pelo menos, este planeta) tenha sido criado por um Criador bondoso. Eu explico: não o pode ter sido. Terá sido criado por outro criador, por outra energia em luta com Ele. Como dizem os chineses: há dois princípios energéticos conjuntos no Universo: O YIN e o YANG. Cada vez mais o panorama que nos circunda é tenebroso, calamitoso, trágico e ameaçador: ele são sismos, inundações, temporais violentos, temperaturas extremas, doenças incuráveis, assassinatos, o descalabro económico e financeiro que ninguém ainda sabe bem no que vai dar, enfim, uma lista quase infindável. É possível imaginar que Lhe seria viável controlar todas estas tragédias, algumas das quais devidas à estupidez e ignorância humanas. Ou então, que Lhe teria sido possível criar seres humanos mais perfeitos e inteligentes. Ou que não lhes conferiria uma liberdade de actuação extrema, que essa liberdade teria limites. Se os seus poderes são ilimitados - e têm de o ser - isso está ao seu alcance. Inadmissível e incompreensível é a aparente indiferença. Não; não foi Ele - ou não foi só Ele - quem criou este Universo em que vivemos. A responsabilidade dessa criação é também de outro. O que leva a uma contradição... É que, assim sendo, os seus poderes não são ilimitados, não são absolutos.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Outra demonstração da nossa periferia

Esta manhã precisei de falar para a Antena 2 da RDP por este "canal" de rádio andar desde há cerca de 15 dias com instantâneos "engasgues" durante a emissão. A pessoa que me atendeu dos serviços técnicos disse-me: "Pois é, mas, sabe, nós dependemos de Madrid ! As emissões da RDP já não são emitidas por feixes hertzianos, mas são-no sim por satélite e o satélite depende de Madrid. E foram eles, os espanhóis, que também puseram aqui um aparelho especial para isto funcionar... Quando eu falo com a minha colega de Madrid a queixar-me e a explicar-lhe a deficiência (em português, como não podia nem devia deixar de ser), a minha colega responde-me "No te entiendo!". E como Sua Excelência "No nos entiende...", passamos a ouvir Chopin, Beethoven, Liszt, Wagner, Mozart e todos os demais... "engasgados". Só faltava mais esta para acentuar a nossa periferia... Se calhar teremos de fazer "una nueva Revolución de los Claveles". Que tal?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

BREAKING NEWS FROM SKY NEWS

Just received: Sky News continua a não apresentar LISBOA e a sua temperatura nos seus Weather Forecasts. Só apresenta Madrid e todas as outras capitais, desde a Europa de Leste. E esta? O que nos falta fazer? O que é que me recomendam?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Hoje é o amanhã de ontem

Típico do modo de pensar genérico dos portugueses - que acentua ainda mais a nossa periferia - é adiar... para amanhã: "Oh ! Faz-se isso amanhã. Não tenhas pressa." Só que nesse amanhã se volta a adiar. Os restantes países europeus não seguem em geral esse princípio e vão acelerando o crescimento das suas economias e melhorando os seus índices de produtividade e de rentabilidade, bem como o seu bem-estar social. Passada esta crise global (esperemos que passe...) veremos em que situação ficaremos se continuarmos a adoptar esta postura de "adiarmos para amanhã"...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cantata nº 201 de Bach

Para ouvir, clique aqui
E na coluna à direita do site que vai abrir poderá escutar outras belas composições musicais de BACH (nomeadamente outras Cantatas)

AS QUALIDADES TERAPÊUTICAS DA BOA MÚSICA

A boa música retempera a alma
A boa música sara dela as feridas
A boa música refrigera, acalma
A boa música preserva muitas vidas
A boa música é intemporal e eterna
A boa música é fraterna e terna.
A boa música é perene e bela
Inconcebível é viver sem ela.


M.C.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Não sou de desistir... A SKY NEWS e os seus Boletins Meteorológicos

Eis outro mail que lhes enviei hoje sobre este assunto:
Dear Sirs,


Three days ago I sent you this e-mail:


"Dear Sirs,


I'm writing you from Lisbon, Portugal. You obviously know that the Iberian Peninsula comprises two independent and distinct countries, namely Portugal and Spain. However, when you show your weather forecasts (we see your TV broadcasts as supplied by our TV Cable company, namely ZON TV CABO http://www.zon.pt/Televisao/cabo/pacotes.aspx?gclid=CMu8-tXh9p8CFc9k4wodS1ToYQ or http://www.zon.pt/ you only show the temperature and other weather conditions for Madrid (Spain). Our country (Portugal) is represented only by a grey rectangle without any reference whatsoever to our capital city (Lisbon) and to its weather forecasts. So, it seems Portugal doesn't exist for you... That's a shame. Portugal belongs to the European Union; Portugal is an independent country since 1140 AD. Portugal, as all other european countries, has Meteorological Services called the "Instituto de Meteorologia". Here is their site: http://www.meteo.pt/pt/ (or, the same site in english: http://www.meteo.pt/en/index.html )


So, would you please include our country in your weather forecasts and not show us in your european maps as an anonymous, unidentified, grey rectangle?


You wouldn't do us any favour. Instead, you would show all the world that you are a responsible, well informed TV station.


Best regards,
Mario Cesar Borges Marques de Abreu
Lisbon, PORTUGAL, February 16, 2010
my other e-mail address: m.mario.cesar@gmail.com"


Now, please see this link (especially the part which I transcribe below).
http://www.fco.gov.uk/en/travel-and-living-abroad/travel-advice-by-country/europe/portugal


TRANSCRIPTION:


"Around 2,254,300 British tourists visit Portugal every year (Source: Portuguese National Statistical Office (www.ine.pt). Most visits are trouble-free. 397 British nationals required consular assistance in Portugal in the period 01 April 2008 – 31 March 2009 for the following types of incident; deaths (208 cases); hospitalisations (91 cases); and arrests, for a variety of reasons (22 cases). During this period assistance was also requested with regard to lost or stolen passports (612 cases). You should be alert to the risk of petty theft. See the Crime section of this advice for more details. If you need to contact the emergency services in Portugal call 112."


Since 3 days ago (after I sent you my mail above... don't know if it is a mere coincidence) Portugal is not represented anymore by a grey rectangle. Now it is represented (like Spain) with various tones of green. We wish to congratulate you for that improvement... However, the name of our country, or even of our capital city (Lisbon) isn't yet shown in the map when you broadcast your weather forecasts. We only see Madrid and it's weather forecasts.
The weather conditions of Madrid are absolutely different from those of Lisbon. Madrid is situated in the central part of the Iberian Peninsula. Lisbon is situated in the litoral, facing the Atlantic Ocean. Under these circumstances, Lisbon is usually much less cold in the Winter and much less warm in the Summer.
Why do you insist in not showing the weather forecasts for Lisbon? Is that due to a subconscious bias? That is: for you and for your meteorologists the Iberian Peninsula is fundamentally Spain, and Portugal is a kind of Spain's minor administrative region...? If that's what you think about our country, you are absolutely WRONG, utterly MISTAKEN!! You should know that. (please read again the explanations I gave you in the mail I sent you three days ago (transcribed above).


We will go on watching your "weird" weather forecasts for the Iberian Peninsula, that is, for PORTUGAL and Spain. All the other european countries are correctly identified in your weather forecasts and you show their temperatures and other weather conditions. Portugal is the only exception... Isn't that strange and utterly unacceptable?


Best regards.
Mario Cesar Borges de Abreu
Lisbon, February 19, 2010
m.mario.cesar@gmail.com

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mail enviado à televisão SKY NEWS

Dear Sirs,


I'm writing you from Lisbon, Portugal. You obviously know that the Iberian Peninsula comprises two independent and distinct countries, namely Portugal and Spain. However, when you show your weather forecasts (we see your TV broadcasts as supplied by our TV Cable company) you only show the temperature and other weather conditions for Madrid (Spain). Our country (Portugal) is represented only by a grey rectangle without any reference whatsoever to our capital city (Lisbon) and to its weather forecasts. So, it seems Portugal doesn't exist for you... That's a shame. Portugal belongs to the European Union; Portugal is an independent country since 1140 AD. Portugal, as all other european countries, has Meteorological Services called the "Instituto de Meteorologia". Here is their site: http://www.meteo.pt/pt/ (or, the same site in english: http://www.meteo.pt/en/index.html )


So, would you please include our country in your weather forecasts and not show us in your european maps as an anonymous, unidentified, grey rectangle?


You wouldn't do us a favour. Instead, you would show all the world that you are a responsible, well informed TV station.


Best regards,
Mario Cesar Borges Marques de Abreu
Lisbon, PORTUGAL, February 16, 2010
My e-mail address: m.mario.cesar@gmail.com

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre a imensidão do Universo

É tão vasta e complexa a imensidão do Universo que:
a) somos demasiado ínfimos para termos nele significado relevante ;
b) as nossas dissenções, divergências, disputas, querelas e conflitos de interesses são igualmente irrelevantes perante tal imensidão; têm tido relevância e significado na História da Humanidade, mas, presenciadas lá de longe, devem parecer um tanto ridículas.. Ocupados e preocupados com as nossas pequeninas "coisas", nem nos interrogamos acerca do significado desta imensa e exuberante realidade que nos rodeia. Normalmente esquecemo-nos dela e aceitamo-la como facto consumado que não merece qualquer outra reflexão... Se não, vejam e ouçam

sábado, 13 de fevereiro de 2010

De onde veio o Universo e os seres que ele contém?

Conforme digo ali em cima "Outros temas serão tratados" neste blogue, ao sabor da inspiração momentânea. E aqui está um tema muito interessante e que não é novo e tem sido abordado por inúmeros pensadores: no link que se segue poderão ver e ouvir um conjunto de lições expostas por um engenheiro americano de comunicações, que começa com esta
Agora só falta decifrar quem é Deus, quais os seus profundos desígnios, que outros seres criou no Universo (se os criou, mas, se não os criou, o Universo é um desperdício) e, finalmente, porque lhe chamámos Deus, God, Gott, Dieu, Dios, Dìo, etc. e não o designámos de outro modo (uma questão etimológica? Bíblica? Um dos significados mais antigos da palavra Deus é "O Invocado"). A razão é complicada. Se não, veja-se este site E, já agora... A forma de Deus? Terá Ele forma? E, se a tiver, será humana? E porque haveria de ser humana? Ou assumirá diversas formas, consentâneas com as dos diversos seres (pelo menos os racionais) que tenha criado por esses Universos fora? Ou será Ele apenas uma energia? Consequentemente, sem forma aparente. Uma potentíssima energia criadora e consciente? Segundo alguns será isso. Uma energia fora do espaço e do tempo. Não teve origem nem terá fim. Não está ela, essa energia, condicionada pelo tempo e pelo espaço. Conseguimos imaginar?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Às vezes a nossa alma regozija-se

Artigo sobre Portugal pelo Embaixador Britânico


Dez coisas que melhoraram em Portugal nos últimos 15 anos.
Por Alexander Ellis,
Embaixador Britânico em Lisboa



Chegou a época do espírito natalício. Então, deixemos de lado quaisquer miserabilismos e concentremo-nos nas coisas boas - não como escape mas como realidade. Vivi em Portugal há quinze anos. Agora, de volta, quero sugerir dez coisas, entre muitas outras, que melhoraram em Portugal desde a minha primeira estadia. Não incluo aqui coisas que já eram, e ainda são, fantásticas (desde a forma como acolhem os estrangeiros até à pastelaria).


Aqui ficam algumas sugestões de melhorias:


- Mortalidade nas estradas; as estatísticas não mentem - o número de pessoas que morre em acidentes rodoviários é muito menor, cerca de 2000 em 1993 e de 776 em 2008. A experiência de conduzir na marginal é agora de prazer, não de terror. O tempo do Fiat Uno a 180 km/h colado a nós nas auto-estradas está a passar.


- O vinho; já era bom, mas agora a variedade e a inovação são notáveis, com muito mais oferta e experiências agradáveis. Também se pode dizer a mesma coisa sobre o azeite e outros produtos tradicionais.


- O mar; Lisboa, em 1994, era uma cidade virada de costas para o mar; poucos restaurantes ou bares com vista, e pouca gente no mar. Hoje, vemos esplanadas e surfistas em toda a parte. Muita gente a aproveitar melhor um dos recursos naturais mais importantes do país.


- A zona da Expo; era horrível em 1994, cheia de poluição, com as antigas instalações petrolíferas. Agora é uma zona urbana belíssima, com museus e um Oceanário entre os melhores que há no Mundo.


- A saúde; muitos dos meus colegas têm feito esta sugestão - a qualidade do tratamento é muito melhor hoje em dia, apesar das dificuldades financeiras, etc. A prova está no aumento da esperança de vida, de cerca de 74 em 1993 para 78 anos em 2008.


- Os parques naturais; viajei muito este ano do Gerês a Monserrate ; tudo mais limpo, melhor sinalizado, mais agradável. O pequeno jardim está, de facto, mais bem cuidado.

- O cheiro. Sendo por natureza liberal nos costumes sociais, não fui grande fã da proibição de fumar - mas, confesso, a experiência de estar num bar ou num restaurante em Portugal é hoje mais agradável com a ausência de tabagismo. E a minha roupa cheira menos mal no dia seguinte.

- A inovação; talvez seja fruto da minha ignorância do país em 1994, mas fico de boca aberta quando visito algumas das empresas que estão a investir no Reino Unido ; altíssima tecnologia, quadros dinâmicos e - o mais importante de tudo – não há medo. Acreditam que estão entre os melhores do mundo, e vão ao meu país, entre outros, para prová-lo.

- O metro de Lisboa. É limpo, rápido, acessível e tem estações bonitas.

- As cores; Portugal tem e sempre teve cores naturais bonitas. Mas a minha memória de 1994 era o aspecto visual bastante cinzento das cidades, desde a roupa até aos carros. Hoje há mais alegria - recordo um português que me disse, talvez com tristeza, que o país estava a tornar-se mais tropical. Em termos de imagem, parece-me um elogio!

Esta é a minha lista. E a sua?
Alexander Ellis,

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Como é em Espanha

Veja-se o que faz uma "Subdirección General de Cooperación Cultural Internacional" do Ministério da Cultura de Espanha.
Exactamente o que sugiro que se fizesse aqui para promover a nossa cultura no exterior, em todas as suas áreas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Fernando Pessoa sobre a necessidade de promover a cultura portuguesa no estrangeiro

Olvidemos o Secretariado da Propaganda Nacional (mais tarde SNI) do Estado Novo (criado e dirigido por António Ferro, sob Salazar, e moldado sobre ideário nazi de Goebbels...), e meditemos acerca da necessidade da criação de uma instituição que promova veementemente no estrangeiro a cultura portuguesa, de que já aqui falei ontem e que bem necessitada anda disso. E "circunstanciemos" as condições da época às que vigoram na actualidade.


Eis pois o texto de Fernando Pessoa (publicado em "Fernando Pessoa - Sobre Portugal - introdução ao problema nacional", Drª Maria Isabel Rocheta e Drª Maria Paula Morão, Edições Ática, Fevereiro de 1979" :


"No seu sentido superior e profundo, a desvalorização internacional da nação portuguesa deriva de três factores conjugados (da acção conjugada de três factores) - a incultura, geral como profissional, do indivíduo português e sobretudo do indivíduo das classes médias; a deficiência de propaganda de Portugal no estrangeiro; e a ausência de consciência superior da nacionalidade.


Seria, tanto inútil como por demais extenso, procurar as causas da existência e concorrência (acção concorrente) destes três factores. A causa fundamental, não há dúvida, é a longa decadência em que entrámos desde o fim da dinastia de Avis. Por decairmos, decaíram paralelamente o indivíduo português e o Estado Português, administrado por esses indivíduos. E, decaindo o indivíduo e o Estado, deixou de haver uma consciência superior da nacionalidade e dos fins nacionais, porque um povo decadente servido por um estado indiferente, a não pode ter; deixou de haver cultura geral, porque nem o estado educava, nem nos indivíduos havia, por decadentes, o interesse civilizado pela cultura; deixou de haver cultura profissional, porque, ausente o estímulo, de orgulho nacional, de concorrer com outras nações, desaparecia a razão para o aperfeiçoamento de cada um no seu mister; e deixou de haver a precisa propaganda de Portugal no estrangeiro, porque, falhos de classes superiores internacionalmente proeminentes, não tínhamos a propaganda natural da superioridade ou nas artes ou nas ciências, e, mal administrado o Estado, não o havia de ser bem exclusivamente na parte superior da diplomacia, nem, falho o orgulho nacional, havia quem, individualmente, se ocupasse em o erguer ante o estrangeiro.



Não ocupamos, ante o geral da civilização, lugar mais proeminente, antes menos, do que no abismo da nossa decadência. O nosso homem das classes médias - e as classes médias são o esteio de um país - é mal culto, ignorante, profissionalmente instintivo ou atado (profissionalmente no comércio); a propaganda da nossa terra é descurada pelo estado, absorvido por políticos, pelos indivíduos, desnacionalizados e inertes, para tudo quanto não seja os seus baixos interesses ou os interesses superiores da sua política inferior; e a invasão das ideias estrangeiras, pervertendo a própria substância do patriotismo que restava entre nós, privou-nos de podermos criar, não já um orgulho nacional, mas uma simples consciência superior da nossa nacionalidade.


Em matéria cultural, o que se tem feito é quase nada. Quem há culto entre nós, a si próprio se cultiva, e as mais das vezes mal, quase sempre anti-nacionalmente. Em matéria de propaganda, a única instituição criada para esse fim, a inepta Sociedade de Propaganda de Portugal, nada faz porque, sendo uma espécie de escol de incompetentes, nada sabe fazer. E em matéria de consciência superior da nacionalidade, a maioria dos portugueses nem sequer sabem que isso existe.
É preciso criar um organismo cultural capaz de substituir o estado nestas funções. Escusa de ter aspecto de potência adentro da Pátria: basta que tenha a precisa noção superior dos seus fins.


Deve essa organização visar três fins: (1) a criação de uma atitude cultural nas classes médias, porque são elas as em que assenta a vida nacional, e os comerciantes sobretudo, porque, sobre serem eles a parte mais forte das classes médias, são a parte mais representativa delas, dado o carácter comercial da nossa época; (2) a criação de uma propaganda ordenada e científica de Portugal no estrangeiro; (3) A criação lenta e estudada de uma atitude donde derive uma noção de Portugal como pessoa espiritual".








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