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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Medidas de austeridade do governo britânico para a quase total eliminação do défice externo do Reino Unido

Quem diria? A notícia foi transmitida nalguns noticiários das nossas televisões e rádios, mas o relevo que lhe foi dado depois foi quase nulo. Será bom que todos nos apercebamos de que até um país que foi um grande Império a nível mundial (senão o maior deles) está a passar por dificuldades económicas e financeiras muito graves.Toda esta crise internacional, esta crise deste e daquele país, acaba também por se repercutir nos demais, dado que haverá uma contracção nas importações e exportações mútuas. Aos factores de recessão internos a cada um acrescenta-se este outro factor resultante da interligação entre todas as economias.

Eis a notícia:

"O governo britânico apresenta na quarta-feira o plano de cortes para a quase total eliminação do défice, abrindo a porta a uma "era de austeridade" e, segundo os críticos, a uma nova recessão.
Depois de em Junho ter anunciado o aumento de impostos como o IVA para angariar mais receitas, o ministro das Finanças vai explicar como pretende poupar 83 mil milhões de libras (95 mil milhões de euros) em cinco anos.
Preocupado com a instabilidade dos mercados financeiros e com o rating da dívida britânica, George Osborne quer fazer o défice cair rapidamente de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009/10 para apenas dois por cento.
Este "emagrecimento" da despesa pública vai implicar reduções de, em média, 25% em todos os ministérios, com excepção dos da saúde e da cooperação internacional.
O plano é o resultado de semanas de negociação, que criaram momentos de tensão entre Osborne e outros ministros, nomeadamente da Defesa e da Segurança Social.
Algumas medidas já são conhecidas, como o fim do subsídio de família para os agregados familiares com maiores rendimentos a partir de 2013.
Todavia, ainda não foi detalhada a dimensão dos cortes, por exemplo, nas forças de segurança e noutros serviços públicos.

Um milhão de britânicos ficarão sem emprego

Um estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC), divulgado nos últimos dias, estimou em perto de um milhão o número de pessoas que vão perder o emprego na sequência das medidas, metade das quais no sector privado.
Empresas de áreas como a defesa e a construção, muito ligadas às encomendas públicas, serão as mais prejudicadas, adiantou a consultora.
Embora mais governos europeus estejam a introduzir medidas de austeridade, o ritmo britânico é considerado o mais radical e também arriscado por alguns críticos.
"A estratégia de austeridade da coligação" entre conservadores e liberais, denunciou Alan Johnson, o responsável pela pasta das Finanças no partido trabalhista, "constitui um risco enorme em termos de crescimento e empregos".
Em vez de eliminar o défice em quatro anos, Johnson defende a redução para metade no mesmo período, evitando um choque tão grande para a economia.
Também David Blanchflower, ex-membro do Banco de Inglaterra e um dos que advertiu para o risco da crise financeira, alertou para o perigo de uma "dupla recessão".
Segundo este economista, "a última coisa a fazer numa recessão é piorar as coisas".

O Nobel da Economia critica medidas radicais:
Outro preocupado com os cortes "demasiado grandes e demasiado rápidos" é Cristopher Pissarides, um dos vencedores do Prémio Nobel da Economia deste ano. "Se for feito tão subitamente, muitos trabalhadores podem perder os seus empregos e então haverá um problema em colocá-los em novos empregos", afirmou, enquanto que, se for mais gradualmente, as "pessoas podem encontrar novos empregos, ao mesmo tempo que outras perdem os delas".
Mas os líderes de 35 das maiores empresas britânicas, como Marks&Spencer, BT e GlaxoSmithKline, mostraram-se favoráveis ao plano do governo. "Reduzir o défice mais lentamente significaria pedir mais emprestado todos os anos, uma dívida pública maior e por isso gastos mais altos para o pagamentos dos juros", sustentaram.
Um estudo da consultora Ernst&Young desta semana previu um desaceleramento da economia britânica, seguido de crescimento sustentado".


Do "Diário de Notícias - Economia" de 26 de Outubro de 2010